Embora o Brasil esteja caminhando para a quarta posição no ranking mundial do mercado de medicamentos, ele ainda ocupa a 13ª colocação entre os países que mais realizam pesquisas clínicas. São apenas 4.800 estudos em andamento, o que representa 2,3% do total, segundo dados do Instituto Clinical Trials. “Estamos perdendo a disputa pela inovação e assim corremos o risco de continuarmos dependentes das inovações de outros países”, argumenta Antônio Britto, presidente-executivo da INTERFARMA (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).
São muitas e expressivas as vantagens de um país que optar por produzir inovação no setor farmacêutico. Dentre as vantagens estão o desenvolvimento científico e tecnológico, o intercâmbio de conhecimento, o acesso a tecnologias tanto para o cientista que coordena os estudos quanto para os pacientes que participam dos ensaios clínicos. Além disso, o avanço em pesquisa e desenvolvimento de novas terapias qualifica melhor os cientistas, e o próprio centro em que o estudo é desenvolvido, além de atrair investimentos.
Esse contexto os investimentos na área contribuem inclusive com o governo, por meio da arrecadação de impostos e do atendimento de pacientes que antes teriam apenas o SUS como alternativa para se tratarem.
“Mas para que isso se concretize, é preciso haver algumas mudanças fundamentais no país”, ressalta Britto. Ele destaca a resistência da universidade em trabalhar com a iniciativa privada. “Nos países inovadores, ambos caminham juntos, geralmente com a universidade focada na pesquisa básica, às vezes com suporte do governo, e a parceria com a iniciativa privada entra em cena para transformar a pesquisa básica em aplicada, os papers em patentes”, esclarece.
Outro problema apontado por ele é a resistência da indústria em assumir o risco da inovação. Estima-se que sejam necessários dez anos de pesquisas, com 10 mil moléculas investigadas, e investimentos de US$ 900 milhões para alcançar um medicamento viável. “No Brasil, a indústria parece mais interessada nos financiamentos do BNDES do que nos investimentos para a inovação”, diz Britto.
Os processos do país também devem ser favoráveis, em vez de terem burocracia excessiva ou de serem lentos. A aprovação de pesquisas clínicas leva 12 meses no País, o dobro da média mundial, o que resulta na desistência de muitos estudos multicêntricos, que acabam realizados apenas em outros países. “Precisamos ser mais ágeis na aprovação sanitária e ética dos pedidos de pesquisa, sem comprometimento do rigor dessas análises”, recomenda.
Por fim, Britto recomenda planejamento. “Vamos ser inovadores em tudo ou em áreas específicas? Existem exemplos de investimentos na criação de centros de inovação para áreas específicas, trazendo cientistas e estudos de segmentos pontuais, tornando assim o país uma referência nessa área”, diz.
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