93 anos de idade e 61 anos de profissão farmacêutica. Os números que falam sobre Joaquim Claudino Filho são muitos, assim como a sua dedicação com a profissão. Apesar da idade e da dificuldade de locomoção, ele continua em atividade, indo todos os dias ao Laboratório Claudino, sediado em Ouro Preto. Joaquim Claudino, o personagem da campanha do Dia do Farmacêutico de 2019, confirma que a essência do farmacêutico sempre foi, e continua sendo, o cuidado.
O farmacêutico escolheu a profissão farmacêutica em 1955, quando foi aprovado no vestibular da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto, a primeira da América Latina. “Escolhi Farmácia por ser o curso mais fácil para chegar ao laboratório. Abri o laboratório antes de concluir o curso, em 15 de março de 1957. Era um sonho mesmo”, explica Joaquim.
Mas, segundo ele, o início não foi fácil. “Para montar o laboratório foi um problema. Os médicos precisavam de um laboratório para que eles pudessem encaminhar os pacientes, mas eu não tinha condições. Ganhava 900 reais, precisava pagar pensão e todas as contas. Até que o diretor da Escola de Farmácia falou que me ajudava a começar. Ele me emprestou um microscópio binocular, um colorímetro ótico monocular e uma centrífuga de dois tubos para urina. Na minha formatura da faculdade, ganhei o prêmio da rifa da comissão e, com esse dinheiro, comprei umas pipetas. Esse foi o meu começo”, ressalta Claudino.
Durante mais de 10 anos, o Laboratório Claudino foi o único de Ouro Preto. Quando a empresa começou a crescer, Denise Pignataro, sua esposa desde 1964, passou a ajudá-lo como secretária, fazendo as faturas e registro de exames datilografados. A essa altura, o Laboratório Claudino já era referência na cidade e região, e tinha um volume de trabalho significativo.
Mesmo com a grande demanda de trabalho, Claudino nunca deixou de lado a verdadeira essência do farmacêutico: o cuidado com as pessoas. “Recebíamos vários pedidos de exames, principalmente da Santa Casa. O movimento era todo de indigente e os pedidos vinham com a marcação ‘NP’, não pagante. Não recebi nenhum dinheiro por esses pedidos, por oito anos foi assim. Nunca cobrei, pois não tinha quem pagasse. Fiz isso para ajudar a Santa Casa e os pobres, que eram a maioria dos internados”, explica. Joaquim também ajudou muitos pacientes, distribuindo vermífugos.
Hoje, com 93 anos de idade, continua trabalhando no laboratório. Segundo Joaquim, o segredo é gostar do que faz. “Sempre gostei de laboratório. Esse trabalho não me cansa. Em casa, eu não faço nada, então prefiro ir trabalhar e fazer alguma coisa. Hoje eu faço o que eu fazia no início, praticamente só exame de fezes. Eu faço o que o profissional farmacêutico não quer fazer, pois hoje é tudo automatizado. Ficar no microscópio não é fácil. Eu olho com muita atenção e curiosidade. Eu faço o mesmo exame até quatro vezes e, se não encontrei nada, repito na manhã seguinte para não deixar passar nada”, explica.
Com quatro unidades em Ouro Preto e um em Mariana, o Laboratório Claudino, além de Joaquim, também conta com outro farmacêutico de mesmo sobrenome. Francisco Claudino, o filho, seguiu os passos do pai. “A única vez que vi Claudino emocionado foi quando o Francisco falou que tinha feito inscrição em Farmácia. Hoje, ele ainda segue o exemplo do pai, também é muito dedicado. Essa é a essência do farmacêutico, se dedicar aos outros. Eu tenho muito orgulho deles”, comenta, com emoção, Denise Pignataro, mãe de Francisco e esposa de Joaquim.
Agora, é o Francisco que toma conta do empreendimento do pai. “Hoje, ele que dá as ordens. Inclusive, ele que me obrigou a tirar minhas férias. Agora, estou me acostumando a ficar a toa. Mas, já cansei de descansar”, explica Joaquim.
Mesmo depois de mais de 60 anos dedicados à profissão e de tantos percalços, Claudino não mudaria seu percurso. “Me sinto realizado na profissão e muito feliz como farmacêutico. A pessoa que procura um laboratório não vai por prazer, vai por necessidade. Tem que ser bem tratado e bem recebido, e receber boas informações, voltar com um resultado seguro e confiável porque isso pode mudar a vida das pessoas. Às vezes encontro pessoas na rua que vem me agradecer por atendimento de anos passados. Então, acho que fui útil em alguma coisa. É bom saber que ajudei”.
Para as gerações futuras, Joaquim Claudino deixa um conselho, que resume a sua história. “Gostar do que faz. É necessário, é uma das boas coisas. A pessoa não gostando, faz aquilo por fazer, sem dedicação”.
Origem
Nascido em Itabira, Joaquim Claudino se mudou ainda criança para Goiás, onde ficou até a adolescência. Foi na maioridade que sua história com Ouro Preto começou. Em 5 de fevereiro de 1946, mudou-se para a cidade para servir ao Exército. Passou pelos exames pensando que seria dispensado, pois eram 3000 candidatos para 800 vagas. Lá, foi selecionado para trabalhar na enfermaria. No serviço de enfermagem, conheceu um médico, Geraldo Trindade, professor da Escola de Farmácia, de quem ficou amigo. Dessa amizade, começou sua história com a Farmácia.
O médico ofereceu a ele um emprego em um posto de assepsia para os soldados. Foi no posto que ele começou a conhecer a profissão farmacêutica, além de aprender a realizar o exame parasitológico de fezes, atividade que realiza até hoje em seu laboratório. Um tempo depois, Geraldo Trindade o indicaria a um novo emprego, também próximo à sua vocação, no posto clínico de coleta da cidade, para ser Escrevente-Microscopista, analisando microscópios e anotando laudos.
Mesmo já trabalhando, Joaquim nunca perdeu a vontade de terminar os estudos, que não pôde fazer quando criança devido às restritas condições financeiras da família. Aos 23 anos, em 1948, ingressou no curso primário do Colégio Arquidiocesano. Por causa da grande diferença de idade entre ele e os outros estudantes, ainda crianças, Joaquim Claudino foi dispensado do uso do uniforme pelo diretor. Terminou o curso ginasial em 1954, com 29 anos de idade.
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