O verão, e principalmente este período pós-chuva, é a época do ano mais propícia à circulação do vetor e, consequentemente, da transmissão dos vírus. Vários municípios estão vivenciando, agora, um aumento na proliferação do mosquito. “Temos uma expectativa negativa. Em relação à dengue, já fechamos janeiro com mais registros que o mesmo período em 2013, ano de maior número de casos em Minas. A partir de novembro há um aumento na circulação do Aedes aegypti e ocorre essa progressão de casos nos meses seguintes. Só em abril esse número deve começar a cair, assim como o das outras doenças transmitidas pelo mosquito”, projeta Avendanho.
No caso da chikungunya, muitos dos registros suspeitos são da divisa com o Rio de Janeiro. Não há nenhum confirmado. Embora o número de casos em investigação tenha aumentado 171%, a SES-MG ainda aguarda a confirmação de casos de transmissão autóctone, aquela que ocorre no próprio estado. Por enquanto, Minas só tem casos vindos de outros estados. Já em relação à zika, a situação é mais grave: o vírus que provoca a infecção já é transmitido por aqui. Na segunda-feira, a Secretaria Municipal de Juiz de Fora confirmou um caso de zika em uma gestante de 35 anos, mas o registro não entrou para os dados oficias porque o exame foi feito em laboratório particular. A SES-MG está tentando obter uma amostra do material para enviar aos laboratórios oficiais, da Fiocruz.
A microcefalia atribuída ao zika vírus também fez mais vítimas. Já são 85 casos notificados, entre bebês com perímetro cefálico menor que 32 cm e gestantes com exantemas, manchas vermelhas que são o principal sintoma da febre zika. São 19 recém-nascidos em investigação, contra oito da semana passada. Já as gestantes em acompanhamento passaram de 16 para 22.
REAÇÃO Questionada sobre as ações de enfrentamento ao mosquito, a Secretaria Estadual de Saúde informou ter investido R$ 66 milhões, recurso destinado a todos os municípios do estado. Uma das medidas é a “proposição de ações judiciais para garantir o acesso de agentes de combate às endemias e agentes comunitários de saúde aos imóveis abandonados”, em conjunto com o Ministério Público de Minas Gerais. Mas o governo federal já tornou isso realidade desde segunda-feira, com uma medida provisória que autoriza a entrada forçada dos agentes para verificar a presença de criadouros nesses imóveis.
Já o Comitê Gestor Estadual de Políticas de Enfrentamento à dengue, chikungunya e zika, criado no fim do ano passado, tem se encontrado com prefeitos e representantes de municípios em situação de risco. Uma reunião com o Executivo de todos as cidades de Minas, ainda sem data divulgada, será realizada com a Associação Mineira de Municípios (AMM). A SES-MG informou ainda que, no mês passado, realizou visitas técnicas às regionais com maior incidência de casos de dengue: Sete Lagoas, Ubá, Coronel Fabriciano, Pará de Minas e Bom Despacho. Oficinas para discutir aspectos técnicos nos trabalhos de combate ao vetor e de atenção ao paciente também foram realizadas em 28 regionais de saúde, com participação de todos os municípios. Campanhas de mobilização, distribuição de panfletos e veiculação de mensagens em contas de água e luz também estão entre as ações realizadas.
MORTES POR DENGUE
Minas Gerais registrou mais duas mortes por dengue, uma em Belo Horizonte e outra em Patrocínio, no Triângulo Mineiro. Em 2015, foram 72 registros. A primeira foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). A vítima é uma mulher de 47 anos, moradora da Região Noroeste da capital, que morreu em 13 de janeiro, em um hospital particular. A segunda morte, em Patrocínio, no dia 12, acometeu uma senhora de 92 anos. Segundo o boletim, nos dois casos as pacientes apresentavam comorbidades, ou seja, tinham outras doenças associadas. Segundo o secretário de Saúde de Patrocínio, Wesley Faber, a idosa era cardiopata. No último boletim divulgado pelo município, na semana passada, 77 casos foram notificados e 38 confirmados.
“O aumento de casos de dengue, zika e chykungunya pode ser explicado pela época do ano. Meses chuvosos, com calor, aumentam os criatórios do mosquito e são o período mais crítico para a transmissão desses vírus. Também é possível que a circulação de mineiros pelo Nordeste, no período de férias, tenha impactado. Muitos podem ter voltado contaminados, repassando esses vírus por aqui, onde seu vetor vive em abundância. Não há um único fator que explique tudo. O que podemos fazer enquanto não criam uma vacina é aprimorar as táticas de prevenção e combate ao mosquito. Mas essa notificação obrigatória da febre zika também é uma medida importante para nos aproximar do que realmente está acontecendo. Antes o dado era subestimado”.