Quando se trata de mercado farmacêutico, podemos dizer que o Brasil é uma potência mundial, pois ocupa a sexta posição entre os maiores mercados consumidores de medicamentos no cenário mundial. Mesmo com a economia abalada, a expectativa é de que, até 2018, o País alcance a quarta posição, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão, segundo projeções do IMS Health.
Uma conjunção de acontecimentos permitiu que se alcançasse esse nível. Um dos fatores dessa equação é o envelhecimento da população brasileira, que vem avançando ano a ano. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população acima dos 60 anos de idade deve passar de 14,9 milhões (7,4% do total), em 2013, para 58,4 milhões (26,7% do total) até 2060, devido ao contínuo aumento da expectativa de vida.
Maior número de idosos significa crescimento no consumo de medicamentos, já que doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, tendem a surgir com o avançar da idade. As farmácias e drogarias são o principal canal de dispensação de medicamentos, logo, não há crise capaz de frear o crescimento do varejo farmacêutico, impulsionado por uma demanda natural.
No entanto, ainda que o setor como um todo se encontre em solo fértil para crescimento, nem todos os modelos de farmácias existentes no País crescem na mesma proporção. Atualmente, o Brasil possui em torno de 70,4 mil farmácias, das quais 72% são representadas pelas independentes e 14% são ocupadas pelas grandes redes - conglomerados de lojas com expansão agressiva e alto poder de investimento.
DOMÍNIO DE FATURAMENTO
É preciso ter cautela na análise dos percentuais para que não se chegue a conclusões errôneas. Quantidade não significa domínio de mercado, quando se trata de varejo econômico. Um grupo de 28 redes, todas ligadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), concentra 44,5% das vendas de medicamentos, mesmo tendo apenas 7% dos pontos de venda (PDVs) instalados no País, segundo indicadores divulgados pelo IMS Distribution Services.
Em relação ao volume de vendas, a representatividade dessas grandes redes cresceu de 42% para 56% entre 2007 e 2015. Enquanto isso, as farmácias independentes encolheram de 55% para 30%.
Para o presidente executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, a explicação para um desempenho tão superior está em um cenário favorável surgido a partir do fim da década passada. O aumento da renda da população brasileira promoveu uma mudança no perfil do consumidor e estimulou a abertura de novos PDVs.
"A necessidade de absorver a crescente demanda e o maior grau de exigência do consumidor favoreceu as marcas com mais representatividade geográfica e fôlego financeiro. Além disso, as principais redes do País se beneficiaram com a maior capacidade de gerenciar estoques e a compra em grande escala de medicamentos e não medicamentos", argumenta Mena Barreto, que ainda atribui o desempenho à boa gestão de estoque e à abrangência geográfica.
Mesmo a inserção de grupos estrangeiros, como a norte-americana CVS, no mercado nacional, colaborou para impulsionar o grande varejo farmacêutico. Antes vista como ameaça, a expectativa de uma internacionalização acabou por estimular que redes locais investissem em lojas maiores e mais modernas, com diferenciais, como pequenas clínicas instaladas no interior da farmácia. Diante disso, pequenos e médios empresários, que trabalham com capital limitado, perdem poder de concorrência e as grandes redes saltam à frente.
FIRMES NA CRISE
O único obstáculo que parece ser capaz de reduzir os bons resultados obtidos pelas grandes redes é a crise econômica brasileira. O varejo farmacêutico como um todo foi pouco abalado e segue crescendo acima de dois dígitos, embora em ritmo mais lento. No primeiro trimestre de 2016, o setor movimentou R$ 22 bilhões no preço consumidor - montante 15% maior que o mesmo período do ano passado. No mesmo período, as grandes redes ligadas à Abrafarma faturaram, juntas, cerca de R$ 9,3 bilhões -um valor 13,3% superior ao mesmo período do ano anterior, mas abaixo da média de mercado.
O resultado é inferior ao apresentado por outro modelo de negócio: o associativismo. As farmácias ligadas à Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) conseguiram crescer 16,8% na venda de unidades, no primeiro trimestre de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, o associativismo encontrou uma maneira de se imunizar contra as ameaças de capitais maiores. "É necessário se unir para ganhar escala, aumentar o nível de profissionalização. Quinze anos atrás, as redes regionais eram maioria nos Estados Unidos, mas, aos poucos, foram sendo absorvidas pela Walgreens e CVS", conta.
Uma explicação para o crescimento abaixo da média do mercado apresentado pelas grandes redes pode estar na venda de medicamentos. Enquanto no acumulado dos três primeiros meses de 2016 o mercado farmacêutico como um todo cresceu 16% na venda de medicamentos de prescrição e 11% nos produtos isentos de receita médica, as redes da Abrafarma cresceram apenas 7,54% nos medicamentos em geral.
Já nos itens da categoria "não medicamentos", que inclui produtos de higiene pessoal, cosméticos, perfumaria, xampus, absorventes íntimos, adoçantes, tinturas de cabelo, preservativos e protetores solares, entre outros, os números superaram a média de mercado, o que mostra que a força das grandes redes está concentrada em produtos diferenciados e não apenas em medicamentos.
A categoria foi responsável por movimentar R$ 3,21 bilhões entre janeiro e março deste ano nas grandes redes - um acréscimo de 12,9% em relação ao mesmo trimestre de 2015 enquanto o mercado cresceu 12%. "Os não medicamentos já representam 34,43% do total comercializado. Isso mostra que, cada vez mais, os clientes querem mais conveniência, buscando um mix de produtos em um único lugar", avalia Mena Barreto.
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