Ter que passar 12 horas em jejum antes de realizar a coleta de sangue para fazer exames que medem os níveis de gordura, como colesterol e triglicérides, é um verdadeiro sacrifício para algumas pessoas, principalmente para os idosos, as crianças e os diabéticos. Mas com os avanços das técnicas de análise laboratoriais, cinco entidades brasileiras se uniram e publicaram no final do ano passado um documento recomendando o fim dessa necessidade. A medida, porém, ainda está sendo adotada pelos laboratórios e deve ser observada pelos pacientes antes da coleta.
A porta-voz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e uma das coordenadoras da iniciativa no país, Tânia Martinez, lembra que os médicos já não consideravam necessário o jejum para os exames de colesterol (total, HDL e LDL), pois os valores de referência não variam com a alimentação.
No entanto, a recomendação era estendida porque a solicitação médica costuma pedir também a análise do nível de triglicerídios no sangue, que se altera de acordo com a ingestão de comida. “Os valores de referência desejáveis desse exame para a prevenção de doenças cardiovasculares são de 150 mg/dL com jejum e de 175 mg/dL sem o jejum. Essa diferença de apenas 25 mg/dL é muito pequena para se exigir a privação de alimentos por um período tão prolongado”, defende.
Martinez esclarece ainda que o jejum de 12 horas será indicado apenas para quem fizer o exame de triglicerídios e tiver um resultado igual ou superior a 440 mg/dL. Nesse caso, o exame deverá ser refeito.
Outro caso que exige o jejum é quando o paciente precisa fazer exames de glicemia para medir o nível de glicose no sangue e diagnosticar o diabetes. Porém, nessas circunstâncias, o período máximo sem se alimentar é de até oito horas. “Dessa forma, fica prático para todo mundo. Se calcularmos que a pessoa janta às 21h, às 6h ela já poderia colher o sangue, sem sacrifício”, diz.
Para o diretor de ensino da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Carlos Eduardo Ferreira, essa exigência do jejum também não reflete o estado metabólico habitual do brasileiro, cuja orientação é de se alimentar a cada três horas.
As entidades médicas responsáveis pela mudança divulgaram um documento oficial, com novos valores de referência para os exames (veja o infográfico).
Laboratórios. A flexibilização do jejum, que é uma realidade em países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, seria benéfica também para os laboratórios, analisa Ferreira. “Eles poderiam colher os exames independentemente do horário do dia”, o que evitaria as filas que costumam se formam logo pela manhã devido ao hábito de marcar os exames de colesterol para esse período.
Segundo Martinez, laboratórios que já contam com instrumentos automatizados teriam que se adequar apenas em relação aos procedimentos de telemarketing, para repassar as novas informações aos pacientes. Já nos laboratórios que utilizam técnicas mais antigas, os resultados podem sofrer interferências quando o paciente está fora do jejum. Porém, ela acredita que até 2018 todos já estarão adaptados à nova realidade.
Mudança. A porta-voz da SBC diz que, se o paciente tiver feito exames em condições metabólicas diferentes, fica mais difícil interpretar. “Em alguns casos, só com a mesma condição é possível ver se existe uma dificuldade em metabolizar os alimentos”, diz.
Mapa do Site