Minas Gerais tem mais de 100 cidades com epidemia de dengue
Uma em cada oito cidades em Minas Gerais apresentou em janeiro quadro compatível com epidemia de dengue, de acordo com critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo levantamento do Estado de Minas e do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 12% dos municípios – 104 no total – registraram taxa de incidência superior a 300 casos em uma população projetada de 100 mil habitantes. Classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que lugares com mais de 300 doentes por 100 mil moradores são tidos como em situação epidêmica. O levantamento considerou o último balanço, com casos confirmados e suspeitos de dengue, divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG). A metodologia consistiu em dividir os totais pela população de cada município e multiplicar por 100 mil.
Apenas no primeiro mês do ano foram 46.589 casos prováveis de dengue (entre confirmados e suspeitos) no estado. No mesmo período de 2013, ano da última epidemia da doença, haviam sido 35.565. Os números sinalizam a força da epidemia projetada para 2016. Em janeiro, ocorreram três mortes em virtude da doença – duas em Belo Horizonte e uma em Patrocínio, no Alto Paranaíba. Entre as 104 cidades com maior taxa de incidência, os destaques em números absolutos são Cláudio, no Centro-Oeste de Minas, com 1.056 casos, Visconde do Rio Branco e Ubá, na Zona da Mata, (1.137 e 1.263, respectivamente), além de Coronel Fabriciano (1.659) e Timóteo (1.146), ambas no Vale do Aço. Cidades menores também despontam entre as de maior prevalência da dengue, diante do cálculo que leva em conta a proporcionalidade de casos projetados para uma população de 100 mil habitantes. Campanário, por exemplo, lidera o ranking de incidência, com 160 casos entre seus 3.733 moradores.
Além da análise por municípios, a pesquisadora Lívia Dutra, do Laboratório de Estatística Espacial do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, aponta que 18 regionais de saúde enfrentam quadro compatível com epidemia de dengue. Das 35 cidades pertencentes à Regional Sete Lagoas, 19 foram afetadas pela doença, enquanto na Regional Leopoldina 10 dos 15 municípios sofrem com a proliferação de casos.
Em Cláudio, cidade em que já foi decretada situação de emergência, proprietários de imóveis com focos do mosquito Aedes aegypti serão multados. O valor da punição vai variar de R$ 100 a R$ 500, de acordo com a gravidade da situação nas propriedades fiscalizadas. Em Belo Horizonte, onde também foi decretada situação de emergência, as ações e busca de novas opções para combater o transmissor foram intensificadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Foi criado, inclusive, um grupo executivo para intensificação do combate ao vetor.
Segundo Frederico Figueiredo Amâncio, infectologista do Hospital João XXIII e doutor em Infectologia e Medicina Tropical pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), quando a quantidade de casos de uma doença em determinada região extrapola o número esperado é configurada uma epidemia. Se esse aumento fica muito acima da curva projetada e provoca uma pressão sobre os serviços de saúde, a OMS acaba definindo padrões de casos por habitantes, como fez no caso da dengue. “Às vezes, poucos casos em um município pequeno, que não tem como atender os pacientes de maneira adequada, já representam um grande problema”, alerta.
Alarmante
Autor de tese sobre a epidemiologia da dengue em Minas Gerais, Frederico se preocupa, principalmente, com o fato de já se ter atingido, em janeiro, um número recorde de casos, já que, historicamente, o pico de dengue ocorre de março a maio. Uma das explicações para o aumento precoce pode ser o racionamento de água em 2014, quando muita gente estocou o recurso de forma inadequada. A dificuldade de diagnóstico diferencial entre dengue e zika também pode estar puxando os números para cima. “Os dados de 2016 são alarmantes. Podemos ter uma incidência semelhante ou até maior que em 2010 e 2013, anos de duas grandes epidemias em Minas Gerais”, afirma.
Para combater o avanço da dengue no estado, a SES-MG informou que já investiu R$ 66 milhões no controle do Aedes aegypti, recurso que foi distribuído entre todos os municípios do estado. O objetivo é incentivar a qualificação das atividades de vigilância e controle de endemias.
Ainda de acordo com a secretaria, o Comitê Gestor Estadual de Políticas de Enfrentamento à Dengue, Chikungunya e Zika Vírus se reuniu com prefeitos e representantes de cinco municípios em situação de risco no estado: Ubá, Governador Valadares, Coronel Fabriciano, Pará de Minas e Bom Despacho, para fazer recomendações sobre o planejamento integrado das ações de prevenção e controle do vetor, organização de serviços de saúde e reforço às atividades intersetoriais – como mutirões de limpeza e ações em imóveis abandonados.
A SES-MG também fez, em janeiro, visitas técnicas às regionais com maior incidência de dengue em Minas: Sete Lagoas, Ubá, Coronel Fabriciano e Leopoldina, que juntas respondem por 116 municípios. Foram realizadas reuniões com os gestores (prefeitos e secretários de saúde), visitas às unidades de saúde e reuniões com os técnicos locais.
Alerta nacional
Assim como Minas, o país começou o ano com aumento do número de diagnósticos de dengue na comparação com 2015, que já tinha batido recordes da doença. Consideradas apenas as três primeiras semanas de 2016, foram registrados 73.872 casos, crescimento de 48,2% em relação às 49.857 notificações do mesmo período do ano passado. Boletim do Ministério da Saúde mostra que, por outro lado, o número de doentes com quadros graves e mortes diminuiu. Segundo o levantamento nacional, por estado, o maior número de casos este ano no período foi em Minas Gerais. Entre os municípios com no mínimo 1 milhão de habitantes, Belo Horizonte tinha nas três primeiras semanas de janeiro a maior incidência: 193,7 casos por grupo de 100 mil pessoas.
Polêmica enterrada
A polêmica em torno da piscina da antiga Associação Mineira de Paraplégicos, na Avenida do Contorno, no Bairro Santa Efigênia, que se arrastava havia pelo menos 10 anos, chegou ao fim com o aterramento do reservatório (foto) pela Associação Mais Acessível, que agora responde pela estrutura. A medida preventiva, segundo a presidente, Andreia Campos, visou a dar fim a um possível criadouro de mosquitos. “Apesar de a piscina estar sendo monitorada, a ameaça de epidemia acelerou esse processo, por uma questão de responsabilidade com o entorno”, diz a representante, que cita a falta de verba para dar manutenção adequada ao espaço. Depois da obra, no entanto, ela garante que a área continuará voltada para o esporte, mas em novas modalidades. “Buscamos parceria para construir uma quadra para futsal, peteca ou badminton no local”, diz a presidente. (EM)
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