Moradora da comunidade Gardênia Azul, na Zona Oeste, Ilda Maria Alves, de 62 anos, toma cinco remédios por dia para controlar o diabetes e a hipertensão. Para agravar o problema, ela nunca pisou numa sala de aula e, analfabeta, dependia da ajuda de parentes e vizinhos para saber a dose e a hora certas de tomar cada medicamento.
Ao perceber a dificuldade da paciente, a farmacêutica Karla Candreva, da Clínica da Família Padre José Azevedo Tiúba, criou caixas personalizadas com desenhos e cores diferentes para cada remédio. Hoje, dona Ilda faz o tratamento por conta própria.
— Era difícil depender dos outros. Às vezes eu esquecia os remédios e acabava passando mal. Agora, tomo tudo direitinho — comemora.
Não é um caso isolado. O acompanhamento domiciliar faz parte de um projeto de assistência farmacêutica desenvolvido, em parceria com a Secretaria municipal de Saúde, nas 73 clínicas da família administradas pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas). Os profissionais visitam as casas dos pacientes, verificam se o tratamento está sendo seguido corretamente e encontram soluções para as dificuldades.
— Às vezes, o paciente acumula receitas e remédios em casa, e o médico não sabe disso na consulta. Tomar vários medicamentos ao mesmo tempo pode fazer mal. Por isso, o farmacêutico entra na casa do paciente, vê a prescrição e avalia tecnicamente todo o processo — diz o gerente farmacêutico Ricardo Bordinhão.
Idosa chegou a desmaiar em casa sozinha
O projeto também mudou a vida da aposentada Anatilde de Oliveira Santos, de 72 anos. Diabética e hipertensa, a paciente, que mora sozinha numa casa em Realengo, precisa tomar 12 remédios e fazer aplicações diárias de insulina.
A idosa chegou a desmaiar em casa por fazer o tratamento de forma errada, até que a farmacêutica Tathiana Miranda de Souza, da Clínica da Família Armando Palhares Aguinaga, entrou em ação. Ela organizou os remédios da paciente e a ensinou a usar uma régua, feita de papelão, que indica os locais corretos para a aplicação das injeções de insulina em cada dia da semana.
Depoimento de Tathiana Miranda, farmacêutica da Clínica da Família Armando Palhares Aguinaga
‘Ela tinha em casa 15 receitas diferentes’
Quando fiz a primeira visita à dona Delci, percebi que ela tinha em casa 15 receitas diferentes e vários medicamentos vencidos. A insulina não estava sendo armazenada da forma ideal. Ela chegou a desmaiar em casa, e foi um milagre não ter acontecido algo pior. Hoje, o tratamento está perfeito.
Depoimento de Ricardo Bordinhão, gerente farmacêutico do Iabas
‘Eles se sentem acolhidos e importantes’
As consultas médicas são rápidas e, muitas vezes, os pacientes acabam não falando sobre outros remédios que tomam. Na visita domiciliar, o farmacêutico consegue fazer a avaliação com mais calma e dar mais atenção aos pacientes. Eles se sentem acolhidos e importantes.
Sobre as clínicas
EXPANSÃO DA REDE — Desde a implantação do modelo, a cobertura de Saúde da Família na cidade passou de 3,5%, em janeiro de 2009, para 55%, atualmente, de acordo com a SMS. A meta da prefeitura é chegar ao fim de 2016 com 70% dos moradores da cidade atendidos.
*FOTO: Guilherme Pinto/ Agencia O Globo
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