A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência global por vírus zika, pegando de surpresa pesquisadores. A entidade alerta que, a partir de agora, a doença será crônica no Brasil e governos terão de tomar medidas de longo prazo. O País anunciou que a emergência nacional será mantida.
A OMS garante que um departamento dentro da instituição passará a buscar soluções para enfrentar o vírus e “não está rebaixando” a doença. Mas especialistas na própria entidade temem que o fim da emergência significará sérios desafios para que cientistas possam obter recursos para manter as pesquisas (mais informações ao lado).
A organização considerou que, como está provada a relação entre o vírus e a microcefalia, ela precisava agora de um “mecanismo robusto de longo prazo para administrar a resposta global”. Para a entidade, o zika “continua sendo um desafio significativo e duradouro de saúde pública e exige ação intensa. Mas não é mais uma emergência”. Por isso, a entidade decidiu “escalar” a doença a um “programa permanente”. A decisão foi alvo de duras críticas por parte dos cientistas. “Será que veremos uma nova onda de casos no Brasil e na Colômbia?” indagou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Contagiosas.
Sua entidade é uma das que tentam arrecadar recursos para bancar uma vacina. Para ele, o fim da emergência é “prematuro”, principalmente porque o verão no Brasil está prestes a começar. “Por que não esperaram alguns meses?” Tentando justificar sua decisão, David Heymann, presidente do Comitê de Emergência, considera que agora o vírus zika é um problema com “conotação específica”. “Ela é declarada quando se precisa de uma ação urgente”, insistiu, destacando a proximidade, na época, da Rio-2016. “A emergência não era para parar o vírus, mas para entendê-lo”, insistiu.
Endêmico
A situação de emergência nacional no Brasil foi declarada há um ano, diante do aumento súbito de casos de microcefalia no Nordeste. E será mantida. “O Brasil está acumulando conhecimento sobre o assunto, precisamos manter a vigilância”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
O Estado apurou que a decisão do governo é manter essa condição pelo menos até o fim do verão, quando se encerra o ciclo de maior risco de transmissão pelo Aedes aegypti. Até agora, não se confirmou um segundo ciclo de nascimentos com microcefalia. Entre outubro e novembro, foram notificados em média 82 casos suspeitos por semana, número menor do que o registrado no mesmo período de 2015. “Há dúvidas que precisam ser esclarecidas”, disse Wanderson Oliveira, coordenador-geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública.
Questionado sobre a decisão do País, Heymann, da OMS, indicou que a considerava “apropriada”. “O Brasil ainda precisa de mais recursos e mais pesquisas. Trata-se agora de um caso endêmico lá, e surtos novos podem continuar”, disse.
Sem respostas
A emergência internacional foi primeiro anunciada em fevereiro deste ano, quatro meses depois de o governo brasileiro notificar a OMS sobre a crise. Até agora, porém, muitas das questões relacionadas ao novo vírus não foram respondidas.
Os cientistas, por exemplo, continuam sem uma explicação sobre o motivo pelo qual o Brasil registrou um salto no número de microcefalia, enquanto em outros locais essa tendência não foi vista. Tampouco há um cronograma claro para quando uma vacina poderia chegar ao mercado. Fontes das Nações Unidas admitem que o produto não estará pronto antes de 2018 ou 2019.
Há poucos meses, a OMS passou até a adotar uma nova definição e considera a nova doença como Síndrome Congênita do Zika. Isso porque evidências científicas apontaram que mesmo crianças com um tamanho de crânio dentro dos parâmetros “normais” podem ser afetadas pelo vírus.
Mapa do Site